O Candomblé

Falar de Babalorixás e Ialorixás sem antes conceituar seu ambiente de atuação, o Candomblé, é uma tarefa um tanto desaconselhável. Para não cometermos esse erro, você conhecerá, nessa página, um pouco da religião africana. Mas lembre-se: tudo o que você lerá aqui  é algo mínimo, perto da vastidão de conteúdos que essa crença proporciona.

O que é o Candomblé?

O nome Candomblé originou-se do termo Kandombile, que significa culto e oração. Trata-se, portanto, de um modelo de religião, que foi trazida ao Brasil pelos africanos e aqui encontrou campo fértil para sua disseminação e reinterpretação. Aprofundando mais ainda nossa definição, o Candomblé é também uma congregação de sobrevivências étnicas da África. O homem negro era tratado, na sua condição de escravo, como um braço ou uma ferramenta, não como um indivíduo. Sendo assim, a religião era uma forma de manifestar-se livremente nas mais inventivas maneiras de crença, diversão, trabalho e alimentação. Enfim, era a maneira mais apropriada de tentar ser africano sob o regime da oficialidade católica, conivente com a escravidão.

Candomblé –  Religião de resistência:

A organização do Candomblé

f31_candombleForam os africanos das etnias Iorubá, Fon e Banto que ocuparam maciçamente o Brasil. Ao chegarem em terras brasileiras, realizaram intercâmbios culturais com as outras etnias e os povos já residentes. Graças a esse encontro entre as diversas culturas, alguns dos preceitos originais do Candomblé sofreram transformações, adaptando-se ao novo terrítório ou à nova situação, a de homem escravo.

Essas vertentes do Candomblé original são classificadas, hoje, como Nações de Candomblé. No início da colonização, para classificar as etnias vindas da África, foi utilizado o critério das línguas. Cada etnia possuía uma língua característica. Para classificar cada nação, usa-se o mesmo critério. Os termos religiosos utilizados, quando ouvidos em ewe, indicam que o terreiro tende a seguir o modelo Jeje. Quando ouvidos em iorubá, indicam um provável modelo da nação KêtuNagô.

Sendo assim, o Candomblé apresenta hoje a seguinte divisão:

– Nação Kêtu-Nagô (iorubá)

– Nação Jexá ou Ijexá (iorubá)

– Nação Jeje (fon)

– Nação Angola-Congo (banto)

– Nação de Caboclo (modelo afro-brasileiro)

Como já foi dito, cada nação apresenta características particulares, referentes a como o Candomblé se desenvolveu dentro de cada grupo. A nação Jeje, por exemplo, se refere a um tipo de Candomblé mais próximo do ideal africano, enquanto a nação Angola-Congo, conhecida como Angolão, é um criativo e moderno modelo religioso, distanciada dos preceitos das casas tradicionais.

Mesmo com as variações entre as Nações, o Candomblé possui muitos pontos em comum. Por exemplo, os deuses africanos são chamados por diferentes termos: Orixá, Vodum, Inquice ou Caboclo. Mas, no final, referem-se sempre à mesma definição, a entidade divina cultuada semelhantemente por todas as nações. São esses pontos em comum, livre das variações entre as nações, que serão preferencialmente tratados na nossa reportagem.

Principais características

A religião do Candomblé possui muitos aspectos culturais e ideológicos característicos da África. Muitos desses aspectos entram em conflito com a cultura do ocidente, sendo os principais motivos para a intolerância religiosa.

Uma das principais características é o fundamentalismo religioso na interpretação de acontecimentos do cotidiano. Muito do que é visto como casual pela sociedade geral, é visto pelo devoto como vontade dos Orixás. Para o Candomblé, a natureza é dona de um enorme poder divino e, dessa forma, deve ser respeitada.

A produção cultural da religião é uma das características mais marcantes, realizando uma eficaz aliança entre os planos sagrado e humano. É o caso das máscaras, esculturas, adornos diversos, pintura corporal, escarificações, entre outros. A dança também é de grande influência dentro do culto ao axé. Muito além de simples coreografias, é praticamente uma linguagem das mais eficazes para travar diálogos entre os deuses, os adeptos e a natureza.

Esquema detalhando uma das danças típicas
Esquema detalhando uma das danças típicas

Para se cozinhar no Candomblé, é necessário muito mais do que dotes culinários. É necessário, sobretudo, conhecer a religião. Isso porque cada orixá tem seus pratos preferidos, além do modo de servir, seja em utensílios de barro, louça ou madeira. É como se o santo realmente comesse. O paladar é um dos modos mais garantidos de manter o orixá satisfeito.

Distinguir indivíduos, dizer quem são, quais os seus cargos, mostrar as relações iniciados e deus tutelar são alguns aspectos detalhados pelas roupas típicas do Candomblé. Cada material, textura, cor e conjugação determina a vestimenta específica de cada Orixá. Por isso, nos eventos de Candomblé, é necessário que cada integrante utilize a roupa correta, para concretizar o ritual.

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Roupa típica de Candomblé

Mas, a principal característica do Candomblé é, sem dúvida, a oralidade. Todo o processo de transmissão do conhecimento é feita de forma oral, dos mais velhos aos mais novos. Graças às características únicas da oralidade, muito do conhecimento sobre o Candomblé se perdeu ao longo dos anos, ou foi alterado de forma significativa.

É obrigação do Babalorixá ou da Ialorixá transmitir esses valores, de forma oral, aos menos experientes. É dever dele também prezar pela manutenção e respeito à todas essas características citadas, para a perpetuação da cultura do Candomblé.

Vídeo que retrata alguns dos rituais do candomblé:

Orixás

Na mitologia do Candomblé, Orixás são as divindades criadas pelo deus supremo Olorum para representar todos os seus domínios na terra. Diferente do que muitos imaginam, os Orixás não são exatamente deuses, mas divindades que detém um poder específico sobre algum elemento da terra.

O nome Orixá não é uma unanimidade para todas as nações. Esse termo pertence à nação Kêtu-Nagô. Na nação Jeje, as divindades são chamadas de Vodum. Para a Angola-Congo, o nome utilizado é Inquice e para a nação Caboclo, o termo utilizado é Caboclo.

A cada Orixá está associada uma personalidade, assim como um comportamente diante do mundo e dos humanos. Alguns Orixás chegam até a ter esposas e filhos. Semelhante à cultura grega, os Orixás são divindades com características bem próximas das humanas.

Confira alguns dos principais Orixás e seus respectivos domínios:

– Exu: o mensageiro, o ponto de contato entre os Orixás e os seres humanos;

– Oxalá: o senhor da força, o senhor do poder da vida;

– Oxum: senhor das águas doces;

– Iemanjá: rainha das águas salgadas;

– Iansã: ventos, chuvas fortes, relâmpagos;

– Xangô: senhor do trovão e do fogo;

– Ogum: senhor dos caminhos, senhor do ferro;

– Oxossi: o Orixá caçador

Exu: o mensageiro, o ponto de contato entre os Orixás e os seres humanos;
Oxalá: o senhor da força, o senhor do poder da vida.
Oxum: as águas doces;
Iemanjá: a rainha dos peixes das águas salgadas;
Iansã: os ventos, chuvas fortes, os relâmpagos;
Xangô: a força do trovão e o fogo provocado pelos relâmpagos quando (diz uma lenda que “sem Iansã, Xangô não faz fogo … “) chegam ‘a Terra;
Ogum ou Ogun: senhor dos caminhos; os desbravador dos caminhos; senhor do ferro;

Oxossí: o Orixá Odé, o Orixá caçador, senhor da fartura ‘a mesa, senhor da caça;

Oxalá, o criador do mundo
Oxalá, o senhor da força
Ogum, senhor do metais
Ogum, senhor do metais
Xangô, senhor dos raios e trovões
Xangô, senhor dos raios e trovões
Oxossi, o senhor da caça
Oxossi, o senhor da caça

Lugar de culto

O templo de Candomblé é tão digno de respeito como qualquer outro. Mais conhecido como Peji, o santuário é o espaço destinado à guarda, fixação, atribuição e perpetuação do axé. O formato do local pode variar muito, ora ocupando espaços ao ar livre, reunindo árvores sagradas, fontes e outros marcos da natureza, ora na construção de santuários individuais, salões públicos para as festas ou locais previamente preparados para os períodos das iniciações religiosas.

Os principais componentes dos Pejis são os assentamentos. Um assentamento é a representação do ou, em muitos casos, o próprio Orixá. Segundo o povo do Candomblé, o assentamento é vivo. E, como todo ser vivo, necessita de cuidados especiais, tratamentos diferenciados. Cada nação interpreta à sua maneira esse tratamento. A nutrição dos assentamentos, que equivale à nutrição dos próprios Orixás, é feita de alimentos e implementos variáveis.

As tarefas privativas dos Pejis, incluindo as limpezas semanais, quinzenais ou mensais, são atividades das mais importantes para manter a boa relação entre fiéis e deuses tutelares. É obrigação do Babalorixá ou da Ialorixá programar e administrar tais eventos, de acordo com a vontade dos Orixás.

Um assentamento de Oxalá
Um assentamento de Oxalá

Ritual de iniciação

A iniciação de noviços é uma tarefa imprescindível para a sustentação religiosa e social do Candomblé. É através dela que os novos fiéis são formados e os valores são transmitidos, perpetuando a existência do culto e da tradição.

O compromisso estabelecido na iniciação é irreparável. Uma vez passando pelos ritos iniciáticos, jamais poderá voltar. Nesse início de tantos compromissos, o noviço geralmente é alertado para seus futuros encargos, de modo que, conscientemente, se faça a passagem para o âmbito do axé. Tudo é novo, do nome do noviço aos novos hábitos e predileções. Isso é refletido e mantido na sua vida, na sua casa, no seu trabalho, nos momentos de lazer.

As condições em que se processam as passagens irão variar de acordo com os modelos das nações de candomblé. Certos terreiros suavizam os preceitos, enquanto outros obrigam o noviço a passar por situações inimagináveis. Banho com ervas e sangue de animais, rituais de dança, pintura do corpo, abstinência, reclusão e retirada de pêlos estão entre os estágios de iniciação do noviço.

iniciação
Raspar a cabeça é um dos estágios do ritual de iniciação

Durante todo o ritual de iniciação, o noviço é acompanhado de perto pelo Babalorixá. É ele quem observa o desempenho do iniciado durante todos os estágios. É sua tarefa também transmitir os ensinamentos e valores ao iniciante desde o início até o fim do processo.

Vídeo sobre o ritual de iniciação:

A entrada do mercado

Contemporaneamente, o candomblé foi descoberto pela classe média e por turistas, autoridades, políticos e artistas em busca de prestígio, revelando o terreiro como algo fascinante e “diferente”, além de fonte não só de apoio moral e religioso mas, principalmente, estético.

Alguns terreiros famosos funcionam como verdadeiras empresas, aproveitando sua notoriedade para promover festas e receber presentes, dinheiro e, principalmente, prestígio, sendo esse último o mais importante para a afirmação da religião em relação à sociedade complexa. Esse é um caso cada vez mais presente na realidade do Candomblé de Salvador. Os terreiros que não se deixaram atrair pelo mercado demonstram crescente desagragação, causada principalmente pela questão financeira.

Roupas típicas da cultura africana, um dos vários produtos do mercado do Candomblé
Roupas típicas da cultura africana, um dos vários produtos do mercado do Candomblé

É essa necessidade de inserção no mercado que sustenta a hipótese dos Babalorixás como profissionais. Muitos realmente sustentam-se com essa atividade, seja com serviços relacionados à religião, vendendo produtos relacionados ao Candomblé (como peças de roupa ou decoração domiciliar) ou promovendo eventos sobre a cultura africana.

8 Responses to O Candomblé

  1. luiz antonio disse:

    adorei!!!! gostaria de saber que como posso entrar em contato com mae marcia de \oxum, brigado e parabens ta lindo!!!

    • alessandra disse:

      óla bom dia pai luciano de ogum quero comentar algumas coisas a respeito de nossa religiao o candlomblé porque ainda pessoas se esconde da sua religiao nao usa o fiu de seu santo nos temos que se unir muito mais estamos perdendo o nosso espasso para as outras religiao nao podemo vamos unir meus irmaos de santos v vamos a luta meu povo do branco

  2. jonathan bezerra lima disse:

    Olá, Gostaria que todos compartilhassem conosco um pouquinho da nossa Nzô e também da nossa Nação Angola.
    Obrigado.

    http://www.blogger.com/profile/10043234857046211122

    Terékondiálukongo

  3. jardson disse:

    gostei eu sou da umbanda de sergipe_cristinapolis amei

  4. milene disse:

    o camdonble e aminha vida hoje mais grandes duvidas me rodeiam.gostaria de saber como se comunicar com mae marcia, adorei

  5. Autor Ebomi disse:

    Parabens postagem bem completa, continue assim irmão, sou autor do site Juntos no Candomblé, ( http://www.juntosnocandomble.blogspot.com ) caso queira alguma ajuda é só falar que estamos juntos para uma religião melhor. Sorte axé.

  6. angela maria disse:

    adorei….tudo principalmente as palavras de mae marcia.pos moro em lins sp e ja tive a oprotunidade de participar de uma festa em sao paulo no dia 18-03-12 foi lindo sai de la com uma imensa paz,eu quero muito voltar,estava querendo ir no dia 06-05 mas nao vai dar.mais voltarei o mais breve e queria muito conhecer mae marcia.

  7. Marcela disse:

    Muito bom esse material,agrega muita cultura para todos…principalmente para nós baianos. É nossa história!!!!!!!

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